A ousadia dos criminosos, que tem gerado insegurança na população, aumenta a cada dia. Nem mesmo as delegacias de polícia têm escapado da ação de bandidos. Veículos apreendidos e que ficam estacionados em frente ao 5º Distrito Policial, no Distrito Industrial, zona Sul, e no 4º Distrito Policial, no bairro Santa Tereza, na zona Oeste, foram completamente depenados e tiveram objetos furtados.
A mesma situação ocorre em um depósito do Governo do Estado localizado na Rua Rui Baraúna, no bairro Caranã, também na zona Oeste. Cedido à Polícia Civil, o local funciona como depósito de veículos apreendidos, mas sequer possui muros, facilitando a vida dos criminosos.
O caso mais grave ocorre no Plantão Central do 5º DP. Mesmo funcionando 24 horas, os ladrões conseguiram violar todos os veículos apreendidos do local. A maioria teve os vidros quebrados e vários objetos furtados, como aparelhos de rádio, bancos e até o forro do teto.
A audácia é tão grande que vários veículos tiveram as rodas arrancadas. Toda a ação, que demandaria tempo até para um mecânico profissional, foi feita ao lado de onde trabalham agentes das polícias Civil e Militar.
A Folha percorreu os dois distritos policiais, na tarde de ontem, e constatou a falta de segurança nos locais onde carros, motos e até bicicletas apreendidas são deixados. Nas duas delegacias, tanto no 4º quanto no 5º DP, os delegados responsáveis não estavam presentes.
Um servidor do 5º DP, que preferiu não se identificar, informou que a coordenação responsável pela segurança dos veículos só funciona pela parte da manhã. “Todos esses veículos estão quebrados e tiveram objetos furtados, sem exceção de nenhum. Hoje, por exemplo, os policiais conseguiram recuperar as rodas de um dos veículos que haviam sido furtadas por menores”, disse.
Ele admitiu que a Polícia Civil não se preocupa com os veículos apreendidos. “Os agentes não têm preocupação, a Justiça também não cobra e o cidadão acaba sendo vítima duas vezes. Essa é a dinâmica. O que ocorre aqui é uma falta de segurança terrível, predial e de material, que deveria ser feita por uma empresa terceirizada. Temos vários desvios de função, botam agentes para vigiar os carros e a população fica desassistida”, frisou.
Questionado sobre quem é responsável pela segurança dos veículos, um outro agente, do 4º DP, afirmou que são os próprios policiais e disse desconhecer que as motos e bicicletas sejam “depenadas” no local.
CASOS – A Folha noticiou, em novembro do ano passado, que a Central de Materiais Apreendidos (CMA) do 4º Distrito Policial teve duas bicicletas furtadas. Os bandidos audaciosos conseguiram quebrar a corrente e levar os transportes que estavam a três metros da entrada da delegacia. À época, os policiais civis informaram que atualmente não tem espaço disponível e nem local adequado para guardar os veículos apreendidos.
No 5º Distrito, o caso mais recente, ocorrido na sexta-feira, 08, foi de um jovem que procurou a Central de Flagrantes para fazer a liberação de sua bicicleta, que havia sido apreendida quando a Polícia Militar surpreendeu um usuário de drogas fazendo uso do veículo.
Na quarta-feira, 06, o proprietário do transporte se dirigiu à delegacia para fazer o reconhecimento da bicicleta e conferiu que era seu veículo, no entanto, pediram que ele retornasse no dia seguinte munido com a nota fiscal e com a pessoa responsável pela compra do produto na loja, a qual tem o nome registrado na nota. Quando retornou na quinta-feira, 07, descobriu que a bicicleta havia desaparecido do estacionamento de veículos apreendidos.
Governo diz que herdou ‘cenário de caos’
Em nota, o Governo do Estado esclareceu que a Polícia Civil herdou um cenário de verdadeiro caos no que se refere à guarda e conservação de objetos apreendidos. “As gestões passadas deixaram de dialogar com o Poder Judiciário para propiciar a efetividade da alienação judicial dos bens apreendidos, considerando as mudanças na legislação processual penal em vigor”, justificou.
Conforme o governo, diversas medidas foram tomadas a fim de evitar que fatos dessa natureza ocorram, como a concentração de todos os materiais apreendidos na Central de Materiais Apreendidos (CMA) e no pátio localizado no bairro Caranã, como também nos pátios da Delegacia de Defesa da Infância e da Juventude (DDIJ) e da antiga Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp) já foram totalmente esvaziados.
Além disso, ressaltou que, no ano passado, teve início o diálogo com o Poder Judiciário. Em relação aos bens que estiverem nas dependências das delegacias, o governo explicou que a responsabilidade compete ao delegado titular e ao chefe de cartório. “Dessa forma, é preciso ter cuidado com supostas teorias, tendo em vista que, no momento da apreensão, muitos carros já se encontram desprovidos de peças e acessórios, por isso é determinada pela autoridade policial uma perícia criminal de constatação de danos e avarias”, frisou. (L.G.C)